quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Para ti (Pai)


Tudo o que sonhava fazer, em prol da família, que estimava muito, se desmoronou, nesta ultima viagem, apesar de ter lutado com todas as suas forças.

Um mal entranhou se lhe no corpo e nunca mais o libertou. levou consigo os seus sonhos, a sua força, o seu sorriso de desafio à vida.

Neste último ano e meio estivemos mais perto, das conversas que agora levarei para sempre comigo, ressalvo o seu espírito de luta, a sua forma de ver a vida, a sua força e retidão de carácter. Relembro os netos que o rodeavam e acariciavam a sua barba branca. Os conselhos que todos ouviam com deferência… De todas as dores, que trago comigo, a sua perda é de certo, a mais sentida.

Ao longo deste tempo estivemos muitas vezes distantes, mas essa distância foi unicamente física, porque tanto eu como ele, estávamos sempre presentes com as nossas formas de ver o quotidiano e sempre unidos nos momentos difíceis.

A ti dedico este meu poema:


Pela tua mão aprendi a caminhar

Sem que fosse necessário andarilho

Aprendi a ler e a estudar

E mais não fiz esse foi o sarilho


De malas aviadas vezes sem conta

Por estradas deste nosso Portugal

Corremos de ponta a ponta

Agora olho da torre e vejo o trigal


A tua terra verde e castanha bem misturada

Que nem sempre foste compreendido

Começavas sempre pela alvorada

Regressavas sempre rendido


Resolveste partir sem remorsos

E se alguém inveja te tinha

Tantas vezes controversos

Deixas-te para eles a tua rainha


Levei-te à última residência

E nesta curta passagem

Revivi os tempos infância

E senti uma nova aragem


Era eu miúdo de calções

E na rua B eu brincava

Levei então uns safanões

Pelo que no momento fumava


Ao longo dos anos essa imagem ficou

Nenhuma outra recordação

Pelo facto da palavra vingou

Entre nós e o coração


Partiste de missão cumprida

Sem nunca te curvares

Alguns ficaram sem pinga

E com a dor de os amares


09/08/2010

Um beijo do teu filho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário