terça-feira, 7 de setembro de 2010

De nós para ti…

Luis-Artur-Fernando-Gonçalo-Francisco

Palavras que se lançam como farpas
Num animal ferido já de morte
Fugindo pela encosta acima
Tentando mais uma vez a sua sorte

Criei dentro de mim um Mundo
Um palco de vida e um sonho
Por vezes vou bem ao fundo
Mas sei muito bem o que proponho

Carrego na alma a tristeza da partida
De quem amava a família tão bem
Agora vamos juntos achar uma saída
Para que o seu nome seja de alguém

Dois netos duas formas diferentes de olhar
De tons azuis e negros
Uma brisa que se sente no ar
A cada momento um choro
Ou simplesmente um piscar
Ambos risonhos isso lhe podemos dar

Carregamos estes amores mais do que dois
São cinco flores
Alguns espinhos
E muitas dores
Mas dentro de nós prevalece
O amor que aprendemos
Quem sabe dos que partem
Dos que ficam
Logo veremos

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Passos em frente


Com os meus olhos embebidos em tristeza
Escrevo palavras que agora sinto
Desta forma forte e com a certeza
Das cores com que as pinto

Partiu
Não vale pena parar
Naquela cama deitado
De olhos bem fechados
Até o coração batia
Num compasso acelerado
Não sofria pensávamos
Estava dormindo
Um sono atroz
Tantos fios
Tantas máquinas
Nem sorriso
Nem olhar
Um respirar ofegante
E tão distante
Partiu
Como já sinto a falta
Das conversas de família
Do seu pensar
Seu olhar
Da sua forma de estar
Do acarinhar
Levas contigo um pedaço de nós
E dentro de nós pedaços de ti
Agora o olhar em frente
E contigo sempre presente

Porque partiste precisando nós tanto de ti.

Para ti (Pai)


Tudo o que sonhava fazer, em prol da família, que estimava muito, se desmoronou, nesta ultima viagem, apesar de ter lutado com todas as suas forças.

Um mal entranhou se lhe no corpo e nunca mais o libertou. levou consigo os seus sonhos, a sua força, o seu sorriso de desafio à vida.

Neste último ano e meio estivemos mais perto, das conversas que agora levarei para sempre comigo, ressalvo o seu espírito de luta, a sua forma de ver a vida, a sua força e retidão de carácter. Relembro os netos que o rodeavam e acariciavam a sua barba branca. Os conselhos que todos ouviam com deferência… De todas as dores, que trago comigo, a sua perda é de certo, a mais sentida.

Ao longo deste tempo estivemos muitas vezes distantes, mas essa distância foi unicamente física, porque tanto eu como ele, estávamos sempre presentes com as nossas formas de ver o quotidiano e sempre unidos nos momentos difíceis.

A ti dedico este meu poema:


Pela tua mão aprendi a caminhar

Sem que fosse necessário andarilho

Aprendi a ler e a estudar

E mais não fiz esse foi o sarilho


De malas aviadas vezes sem conta

Por estradas deste nosso Portugal

Corremos de ponta a ponta

Agora olho da torre e vejo o trigal


A tua terra verde e castanha bem misturada

Que nem sempre foste compreendido

Começavas sempre pela alvorada

Regressavas sempre rendido


Resolveste partir sem remorsos

E se alguém inveja te tinha

Tantas vezes controversos

Deixas-te para eles a tua rainha


Levei-te à última residência

E nesta curta passagem

Revivi os tempos infância

E senti uma nova aragem


Era eu miúdo de calções

E na rua B eu brincava

Levei então uns safanões

Pelo que no momento fumava


Ao longo dos anos essa imagem ficou

Nenhuma outra recordação

Pelo facto da palavra vingou

Entre nós e o coração


Partiste de missão cumprida

Sem nunca te curvares

Alguns ficaram sem pinga

E com a dor de os amares


09/08/2010

Um beijo do teu filho.