Tudo o que sonhava fazer, em prol da família, que estimava muito, se desmoronou, nesta ultima viagem, apesar de ter lutado com todas as suas forças.
Um mal entranhou se lhe no corpo e nunca mais o libertou. levou consigo os seus sonhos, a sua força, o seu sorriso de desafio à vida.
Neste último ano e meio estivemos mais perto, das conversas que agora levarei para sempre comigo, ressalvo o seu espírito de luta, a sua forma de ver a vida, a sua força e retidão de carácter. Relembro os netos que o rodeavam e acariciavam a sua barba branca. Os conselhos que todos ouviam com deferência… De todas as dores, que trago comigo, a sua perda é de certo, a mais sentida.
Ao longo deste tempo estivemos muitas vezes distantes, mas essa distância foi unicamente física, porque tanto eu como ele, estávamos sempre presentes com as nossas formas de ver o quotidiano e sempre unidos nos momentos difíceis.
A ti dedico este meu poema:
Pela tua mão aprendi a caminhar
Sem que fosse necessário andarilho
Aprendi a ler e a estudar
E mais não fiz esse foi o sarilho
De malas aviadas vezes sem conta
Por estradas deste nosso Portugal
Corremos de ponta a ponta
Agora olho da torre e vejo o trigal
A tua terra verde e castanha bem misturada
Que nem sempre foste compreendido
Começavas sempre pela alvorada
Regressavas sempre rendido
Resolveste partir sem remorsos
E se alguém inveja te tinha
Tantas vezes controversos
Deixas-te para eles a tua rainha
Levei-te à última residência
E nesta curta passagem
Revivi os tempos infância
E senti uma nova aragem
Era eu miúdo de calções
E na rua B eu brincava
Levei então uns safanões
Pelo que no momento fumava
Ao longo dos anos essa imagem ficou
Nenhuma outra recordação
Pelo facto da palavra vingou
Entre nós e o coração
Partiste de missão cumprida
Sem nunca te curvares
Alguns ficaram sem pinga
E com a dor de os amares
09/08/2010
Um beijo do teu filho.
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