terça-feira, 7 de setembro de 2010
De nós para ti…
Palavras que se lançam como farpas
Num animal ferido já de morte
Fugindo pela encosta acima
Tentando mais uma vez a sua sorte
Criei dentro de mim um Mundo
Um palco de vida e um sonho
Por vezes vou bem ao fundo
Mas sei muito bem o que proponho
Carrego na alma a tristeza da partida
De quem amava a família tão bem
Agora vamos juntos achar uma saída
Para que o seu nome seja de alguém
Dois netos duas formas diferentes de olhar
De tons azuis e negros
Uma brisa que se sente no ar
A cada momento um choro
Ou simplesmente um piscar
Ambos risonhos isso lhe podemos dar
Carregamos estes amores mais do que dois
São cinco flores
Alguns espinhos
E muitas dores
Mas dentro de nós prevalece
O amor que aprendemos
Quem sabe dos que partem
Dos que ficam
Logo veremos
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
Passos em frente
Com os meus olhos embebidos em tristeza
Escrevo palavras que agora sinto
Desta forma forte e com a certeza
Das cores com que as pinto
Partiu
Não vale pena parar
Naquela cama deitado
De olhos bem fechados
Até o coração batia
Num compasso acelerado
Não sofria pensávamos
Estava dormindo
Um sono atroz
Tantos fios
Tantas máquinas
Nem sorriso
Nem olhar
Um respirar ofegante
E tão distante
Partiu
Como já sinto a falta
Das conversas de família
Do seu pensar
Seu olhar
Da sua forma de estar
Do acarinhar
Levas contigo um pedaço de nós
E dentro de nós pedaços de ti
Agora o olhar em frente
E contigo sempre presente
Porque partiste precisando nós tanto de ti.
Para ti (Pai)
Tudo o que sonhava fazer, em prol da família, que estimava muito, se desmoronou, nesta ultima viagem, apesar de ter lutado com todas as suas forças.
Um mal entranhou se lhe no corpo e nunca mais o libertou. levou consigo os seus sonhos, a sua força, o seu sorriso de desafio à vida.
Neste último ano e meio estivemos mais perto, das conversas que agora levarei para sempre comigo, ressalvo o seu espírito de luta, a sua forma de ver a vida, a sua força e retidão de carácter. Relembro os netos que o rodeavam e acariciavam a sua barba branca. Os conselhos que todos ouviam com deferência… De todas as dores, que trago comigo, a sua perda é de certo, a mais sentida.
Ao longo deste tempo estivemos muitas vezes distantes, mas essa distância foi unicamente física, porque tanto eu como ele, estávamos sempre presentes com as nossas formas de ver o quotidiano e sempre unidos nos momentos difíceis.
A ti dedico este meu poema:
Pela tua mão aprendi a caminhar
Sem que fosse necessário andarilho
Aprendi a ler e a estudar
E mais não fiz esse foi o sarilho
De malas aviadas vezes sem conta
Por estradas deste nosso Portugal
Corremos de ponta a ponta
Agora olho da torre e vejo o trigal
A tua terra verde e castanha bem misturada
Que nem sempre foste compreendido
Começavas sempre pela alvorada
Regressavas sempre rendido
Resolveste partir sem remorsos
E se alguém inveja te tinha
Tantas vezes controversos
Deixas-te para eles a tua rainha
Levei-te à última residência
E nesta curta passagem
Revivi os tempos infância
E senti uma nova aragem
Era eu miúdo de calções
E na rua B eu brincava
Levei então uns safanões
Pelo que no momento fumava
Ao longo dos anos essa imagem ficou
Nenhuma outra recordação
Pelo facto da palavra vingou
Entre nós e o coração
Partiste de missão cumprida
Sem nunca te curvares
Alguns ficaram sem pinga
E com a dor de os amares
09/08/2010
Um beijo do teu filho.