sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Crença das palavras



Na crença das palavras onde o sonho predomina
Nas aves de rapina que ao longe esperam calmas
Em qualquer lugar do meu imaginário termina
A fúria de ver palavras risonhas nas palmas

Cerro os dentes para gritar abafado
No frio gelado da manhã que nasceu
Olho no mirante o passageiro abandonado
Escavando o buraco com sua camisa ao léu

De cigarro na boca meio de lado
Fura a pedra dura da estrada em vão
Outro dia será melhor calculado
Para isso será necessário dar-lhe a mão

Em muitos lugares por onde passei
Vi arvores flores e passarada
Vi um pouco de tudo até imaginei
Que agora anda por ai espalhada

Escrevem e deslizam pelas palavras
Pontuam onde devem pontuar
Criticam o não sabem criticar
E mandam beijos só por mandar

E aqui estou surdo neste emaranhado
Nas palavras que me correm nas veias
Enfim esta tudo embrulhado
Com papel e cheio de teias

Lá longe ouço o sino a tocar
Toca arrebate no cume da aldeia
É a minha forma de desabafar
Antes que fique com apneia

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Vento e ventania



Vento e ventania
Palavra é poesia
Cristais são vidros
Grito é agonia

Manhã submersa no nevoeiro branco e húmido que se espalha pela estrada que percorro todos os dias de casa ao trabalho.
Levo no coração as palavras ainda abafadas das crianças que deixei para trás no seu dormitar aconchegado do calor de sua mãe.
Nas curvas largas descrevo no meu olhar a saudade que acabo de deixar. Queria voltar mas as razões da vida não se apoquentam com os amores e desamores do nosso quotidiano. Olho para relógio colocado e apertado no pulso esquerdo onde um avião indica as quatro horas ou mesmo as dezasseis horas. Sem ruído aproximo-me do escritório com vista para avenida onde lá longe se vê de vez em quando um desses aviões a descolar estremecendo na sua passagem os vidros que nos separam.
Hora após hora na minha frente um lote de papeis que todos os dias chegam para que sejam distribuídos pelos locais devidos.
Toca o telemóvel do outro lado com uma voz doce avisa-me que chegou a hora de almoço, sinto o coração a bater pela alegria de os tornar a ver.

Subo que subo sempre a subir
Abro a porta que deixei fechada
E em paços certos sem cair
Chego à entrada da alçada

Lá dentro um gemido
É uma forma de falar
É o filho querido
Que já tenta cantar

O outro lá vem
Muito de mansinho
Para dizer que tem
Muito carinho
Dou-lhe um beijo
E um miminho
Faz um sorriso
Devagarinho

Então por ultimo com cabelos ao vento
Sorriso que atravessa toda a sala
Olhamo-nos nos olhos pelo momento
E eu bato-lhe a pala
Ela deseja um beijo doce
Um beijo que nos faça sentir
Mesmo que seja agridoce
Mas que nos faça sorrir.